sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Planisfério Impessoal



136cm2 de Mundo a flutuar na linha perpendicular à íris dos dois olhos.
136cm2 de Vida encaixotada no meu quarto.
136cm2 de sons, de História e estórias, de recantos que não vi...

Tenho na ponta do dedo indicador um sensor de coordenadas, que percorre de forma irredutível linhas imaginárias, infinitamente longínquos quilómetros de chão em infinitamente curtos segundos. E nessa “regra de três simples” sem solução, nasce a 2a incógnita, a pequenez do corpo que somos que carrega a amplitude gigante da mente que temos. Proporções directas e indirectamente não-rectas. Será que tens espaço na imaginação para conter Tudo? Nem Um-Mil-Avos sabemos escrever no arquivo do Hipocampo. Mas a capacidade existe em potência pela busca da Unidade.

Vamos simplificar:

Baghdad, Borujed e Bakthtaran
Mosul, Masjed-e-Sloeyman e Meymaneh
Al Khurtum, Al Madish e Al Qahirah

Jaipur, Bijapur e Jodhpur
Berhampur, Sholapur e Proddatur

Gyangzê e Xigazê
Guangzhou, Xuzhou e Zhengzhou

Convergentes no écran, na sonoridade, na métrica ocular
Divergentes no terreno, no conteúdo, na métrica plantar
São prefixos e sufixos ali deixados, sílabas que rimam e outras que esgrimam num conflito intercalar.

Tenho o corpo enraizado no leito, sentada em posição de lótus, a contemplar a miniatura do mundo planificado que segura a parede. Os pontos de dimensões progressivamente mais difíceis de distinguir ampliam-se quando sintonizo noutra frequência, atiram-se sem medo contra os meus olhos e entram, entram a alta velocidade na mácula em via rápida para o córtex visual. Airbag e ABS. Não há feridos entre os pensamentos, há feridas nos sentimentos das imagens que transportam. Nascem em cada lugar, esses que nunca vi, esses que choram as assimetrias mas sem armas psicológicas para as equilibrar. Vou e volto... bungee jumping, slide e rapel. Senta-te aqui a meu lado, deixa o teu centro, vem ver o mundo lá fora, de fora para dentro.

sábado, 2 de agosto de 2008

Ilusionista




Barbara Probst

"There are many ways of seeing the world. A little sleight of hand can show you them all"

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Espelho Sss


Senta-se diante de mim, imponente e com aquele ar de superioridade, de controlo. Persegue as minha pupilas, diz-me nos lábios o que nem sempre quero ouvir, zoom in & zoom out de arquivos arquivados. Tento fintar o incontornável, esconder-me nas suas costas onde é mais frágil, onde me torno mais forte, mas nos vectores que nos intercomunicam a sublimação não é um processo possível. Ali fica, todos os dias... comprou ida sem volta, formou-se em psicoterapia, pós-graduado em hipnose. Por vezes tento compreende-lo, a razão da sua escolha.... se calhar não me quer punir, se calhar que apenas persuadir-me a evadir, a ampliar o diâmetro de actuação. E Ali fica, todos os dias... e nesses dias alternados (como a impressão frente e verso : todas as páginas pares; todas as páginas ímpares) joga aos dados comigo: hoje és tu, hoje sou eu, hoje é o eu-que-não-sou-eu-nem-tu-nem-nós. No intercalar desses degraus em caracol pulsa a alma à flor da pele, para além D’ele, para além D’aqui.

Evado-me.

Abro a porta.

Procuro agora, sem Ver, as imagens refractadas no que não reflecte.
Caminho na rua onde ele não tem lugar, devagar, com_passada_mente, absorvo, adsorvo, construo, ascendo... o ponto de sublimação é possível aqui, a temperatura irrelevante, o termostato está no hipocentro da terceira visão.
E desta perspectiva o espelho foi purificado, pLurificado, são muitos, são todos, é o Mundo, sou eu, és tu.
Somos o mais perfeito ilusionista de nós próprios, materializamos aquilo em que queremos acreditar, aquilo que queremos ver... no Espelho.
E agora que o espelho das paredes do meu casulo descansa, hibernado indefinidamente, descentralizo o reflexo e vejo que, tal como ele, também Tu, espelho meu de corpo e alma, me revelas o que quero ver, o que quero ser em ti.
Solto as amarras, 180º, caminho em sentido inverso, vou indo.... ida sem (re)volta!