segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Brainstorm


Brainstorm
Brain
Storm
Soul
Aura
Acção
Atitude
Asfixia
Estrangulamento
Convulsão
Contenção
Fronteira
Pânico
Fobia
Medo
Desconhecido
Nonsense
Inconsciente
Latente
Silêncio
Mudo
Codificado
Rítmico
Lógico
Controlo
Método
Desintegrado
Anárquico
Excepção
Falha
Placa
Tectónica
Oscilação
Tremor
Centro
Força
Deus

Deitada, colada ao chão que me gela as costas, mãos amarradas sem corda, no medo que a corda nasça. O cérebro comanda a ordem mas os membros não respondem, não respondem porque não têm voz nem movimento. Paralizada. O pescoço inerte, os olhos fixos no tecto que cobre o Mundo, porque os olhos não mexem. Gelo. Cobre-me devagar a água salgada, água da nascente que brota à superfície pelos poros da pele, o tecto que cobre o corpo. Calor. Mistura-se o quente do centro da terra, do centro de mim, com o frio exterior na água que brota da nascente do tecto. Arrepio. Seca. São secas as palavras que a boca não profere e que engulo em seco, porque a água brota, toda. Tremor. Tremo mas ninguém vê, porque a acção não passa o lado de dentro. Medo. Cuspo medo, mas a força da gravidade e o milagre da multiplicação oferecem-me milhares de lanças descendentes de medo que me lancinam. Choro. Choro na pausa no silêncio da solidão. A água salgada desce e funde-se com a outra que nasceu primeiro. Apaga-se a luz e não vejo, porque só fui habituada a usar o sistema que começa num par de olhos. Escuro. A bússula não me ajuda porque não é fluorescente.
Resisto. Tremo. Choro num continuum, até que me canso e exausta deixo de querer ver, deixo de querer olhar noutra direcção, deixo de querer movimentar os membros ou querer andar. A interacção com o outro, com os outros, com o mundo mudou de página, de sentido, de sinónimo.
Agora, sem lutar, na tranquilidade, sem sentidos, com sentido, a luz emana do centro e eu sinto de uma forma que nunca provei, que nunca li, que nunca toquei. A distância ao tecto aumenta, o corpo cresce, a temperatura já não se mede em grau Celsius. Respiro. Inspiro até à base, sinto o ar que entra devagar, que me insufla. O ar que era exterior, que estava do lado de fora, passa a ser eu, a ser alimento, vida, o ar que os olhos de ninguém conseguem ver ou cheirar porque é invisível, incolor, inodoro... esse ar é a minha vida neste instante. Expiro, Sinto o ar que sai, com ele sai o que eu já fui e nesse instante dá-se a fusão no sentido contrário. Passo a ser o ar que o outro não vê e que após reciclagem irá consumir para sobre_viver.
Tudo. Uno. Pleno.
Devagar, desenham-se imagens à minha frente. Os olhos permanecem desligados mas eu vejo. Vejo cor. Vejo o ar que não via. E vejo mais, mais profundo, mais amplo, mais colorido.
Devagar, o pescoço ajuda a cabeça que muda de direcção.
Devagar, os dedos mexem, os braços dançam, os pés caminham.
Devagar, não há limites, a união é escrita, espalha-se, cobre tudo.
Medo? Desaprendi, desconheço. O coração bate mais devagar, não há pânico, nem fobia, não há convulsão nem arrepio. E no entanto, visto de fora, o corpo permanece imóvel no mesmo lugar.
Devagar sou uma só luz, uma voz.
Agora, vira o ecrã de pernas para o ar e compreende que escrevi este texto na terceira pessoa... Tu és o EU de cada frase.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

Regresso



Regresso. Passo pela porta com mais do que as malas no ombro magoado, o peso é maior do que na partida, preenchi com souvenirs os espaços invisíveis por entre os cm3 de vazio... na mala e no coração. Paixão, é paixão a força propulsora da minha vontade, são as asas nos pés, e a chave do cadeado... paixão é ir sem pensar em voltar, entregar a pirâmide como um todo a transeuntes que escolheram deixar de o ser... Paixão é não dormir e comer conservas, é adiar o banho, desacertar o relógio, é sentar de pé sobre os músculos cansados e aprender, aprender contigo até transbordar os olhos... lágrimas, cada uma com nome próprio... Paixão é ir ensinar e viver numa balança invertida, aprender mais... é sentir as ondas a expandir amplamente pelo todo que sou e não descrevo, num paradoxo paradoxalmente lógico, analógico, e renascer entre a ferida que rasga e o Amor que nasce. E é na ponta da navalha, daltónica e monocromática, que pinto tonalidades por inventar.
Regresso. O aroma não mudou, as cores, a energia que me acolhe, a luz esbatida que ficou acesa, as vozes mudas. A superfície de interacção destas forças na minha pele contraria as leis da física, contrapõem-se num duelo com mais do que um vencedor, baralham e jogam de novo, lançam cartas novas, novas fórmulas químicas, da química alquimista. Passos. Oiço os meus passos, os pés descalços que mais barulho fazem que as botas deixadas à porta. E as lágrimas nascem fora das glândulas lacrimais, fora ventrículo esquerdo, da amígdala e do hipotálamo. Tenho uma fonte noutra dimensão. Bifurcada, multifacetada. Nome, nome, chama-me pelo nome que calada permanecerei. Nome? Não me chamo.... Sou menos pessoa que ontem, mais amplitude, menos fronteiras, mais viagens, menos estações e apeadeiros. Larguei o volante, “eu só peço para ver, ainda peço para ver”... No palco representaste a mulher que não cegou no livro do Saramago, os olhos no escuro, as memórias da vida que já foi.
Regresso mas não parti, de lá nem daqui. Sou puzzle incompleto, receita vegetariana sem título, sou agora dedos no teclado e mente em alta centrifugação. Interacções na pele, aquelas, arrepios e pensamentos fora de moda, interacções nas onze dimensões, naquelas, aquelas, onde penso morar e as outras, não aquelas, que não são mais outras pois descobri lá ter nascido. E, se me escreveres frases faladas, envia carta sem selo e sem morada, porque deitei as chaves ao mar.
Regresso. Desço os degraus porque nem sempre o mais elevado está mais alto, congelo os dedos que já não teclam... estas palavras são escritas já com a minha ausência, com o rasto que ficou aqui e em cada lugar.

sábado, 6 de setembro de 2008

Água no estado líquido




http://3m2.blogspot.com - Conversas II

quarta-feira, 3 de setembro de 2008