sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Espelho Sss


Senta-se diante de mim, imponente e com aquele ar de superioridade, de controlo. Persegue as minha pupilas, diz-me nos lábios o que nem sempre quero ouvir, zoom in & zoom out de arquivos arquivados. Tento fintar o incontornável, esconder-me nas suas costas onde é mais frágil, onde me torno mais forte, mas nos vectores que nos intercomunicam a sublimação não é um processo possível. Ali fica, todos os dias... comprou ida sem volta, formou-se em psicoterapia, pós-graduado em hipnose. Por vezes tento compreende-lo, a razão da sua escolha.... se calhar não me quer punir, se calhar que apenas persuadir-me a evadir, a ampliar o diâmetro de actuação. E Ali fica, todos os dias... e nesses dias alternados (como a impressão frente e verso : todas as páginas pares; todas as páginas ímpares) joga aos dados comigo: hoje és tu, hoje sou eu, hoje é o eu-que-não-sou-eu-nem-tu-nem-nós. No intercalar desses degraus em caracol pulsa a alma à flor da pele, para além D’ele, para além D’aqui.

Evado-me.

Abro a porta.

Procuro agora, sem Ver, as imagens refractadas no que não reflecte.
Caminho na rua onde ele não tem lugar, devagar, com_passada_mente, absorvo, adsorvo, construo, ascendo... o ponto de sublimação é possível aqui, a temperatura irrelevante, o termostato está no hipocentro da terceira visão.
E desta perspectiva o espelho foi purificado, pLurificado, são muitos, são todos, é o Mundo, sou eu, és tu.
Somos o mais perfeito ilusionista de nós próprios, materializamos aquilo em que queremos acreditar, aquilo que queremos ver... no Espelho.
E agora que o espelho das paredes do meu casulo descansa, hibernado indefinidamente, descentralizo o reflexo e vejo que, tal como ele, também Tu, espelho meu de corpo e alma, me revelas o que quero ver, o que quero ser em ti.
Solto as amarras, 180º, caminho em sentido inverso, vou indo.... ida sem (re)volta!

1 comentário:

Enolough disse...

tens uma estranha relação com o espelho. adoras espreitar e tantas vezes foges dele. queres saber tudo o que mostra mas recusas o que diz. és assim.