domingo, 5 de abril de 2009

Distância periódica



Permaneci um tempo indeterminado a olhar através do rectângulo transparente na parede, construindo uma pirâmide de peças com maior ou menor encaixe, ainda e eternamente incompleta, eu, à espera que chegasses, tu. Ontem chegaste. Hoje decapitaram-me o coração.
Queria ter a força do sol e não morrer como ele, mas a distância periódica do teu olhar estrangula-me até à asfixia das lágrimas, que tocam o solo já em estado sólido. É tão grande a saudade antes de nascer que me falta sal para chorar.
Bloco de notas, livro de receitas, guia de utilização…. Faço uma metanálise de conteúdos e construo um sistema de equações original. Quero saltar do cerco da moda, mas a cadência de eventos não me larga o tornozelo… desenho uma circunferência no chão com o diâmetro do corpo. E salto, salto sobre o raio aumentando a altitude até que as asas me cresçam e eu possa, sempre, mudar o ponto de apoio, mudar a origem, mudar o destino, chegar a ti.
Olho agora, de novo, através do rectângulo transparente na parede e introspectivamente inspecciono o cataclismo nos bastidores dos meus olhos. Olho na esperança de não te ver passar, de não te ver partir…
Fica… para sempre…

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