quarta-feira, 28 de abril de 2010

Osmose


Vertigem…. Fecho os olhos para deixar de rodopiar, mas o fluxo alucinante dos inputs sensoriais causa-me desequilíbrio… vertigem… caminho sem mover os pés num caminho sem destino, naquele onde o agora e o depois se fundem numa existência una, magna, só!
Gritam-me em silêncio as vozes do mundo mudo, num crescendo a cada segundo de distância percorrida… Quero laquear a barreira invisível que ténuamente separa a essência da existência, ficar por instantes mergulhada no ponto de ebulição dos pensamentos intrínsecos, mas eles (esses outros que moram lá fora) voam como flechas com alvo certo. Centrípetos são o sentido e a direcção. Centrífuga a vontade.
Sentidos… sentido… recosto o corpo num banco de imaginação e recebo por osmose o mar de sensações do lado de fora. São aromas coloridos e sabores de vários timbres, e no instante que passa perco a capacidade de discernimento intuitivo. Incessante a sede do exterior em entrar neste espaço onde existo e inexisto, um estado mutável e híbrido. Teimam em não perguntar, eles, os sentidos, se a alma que baptizei se quer reconstruir num continuum… e eu,enquanto recupero o fôlego, deixo-me guiar pela maré, aquela que antes vos apresentei.
Decido largar a bússula...Pausa…. Inspiro… Redimensiono a objectiva. Deito o corpo exausto no chão frio e mudo a direcção do olhar, traço uma perpendicular a zénite e deixo que as pupilas dancem de improviso pelo campo de visão. Emano pensamentos e inspiro inspirações na terceira pessoa, aquelas que soltas ao passar ao meu lado, aquelas outras também que compõem o terceiro espaço e que entram na mesma equação que as minhas. A matemática redimensionada não vem nos livros, vem dos cruzamentos fortuitos que gravam novas coordenadas, orientam rumos e tomam o leme do destino.
Continuo, imóvel, ainda, a absorver o mundo… a espessura da pele transforma-se com sedimentos que se sobrepõem de momentos sucessivos. Bebo mais um pouco, daqui e dalém, até fechar os olhos de plenitude. Nesse instante sinto a clarividência de toda uma vida, da minha, da tua e do mundo inteiro.
Expiro! Levo-te comigo… leva-me contigo…

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