quinta-feira, 17 de julho de 2008

Um terço da metade de um

Sempre fui metades de coisas que fui sendo. E a soma de múltiplas falsas metade é sempre inferior a um. Estou em constante decalage entre o que sou e o que queria ser, e é no tropeçar descuidado de pés descalços que choro (como tu) no outro e neste dia. Faço buracos negros, negros de cor e de energia raios-gama de alta capacidade criativ-o-destrutiva. Pensamentos intrusivos saqueam-me a sanidade autónoma da não autómata liberdade pensativa. Rituais assustadores perseguem-me com acrobacias, determinados. A Força vai-se virando, alternado, mutando. Tudo que vês em mim não existe, sou holograma criado pela minha própria existência, pelo que outrora julguei (vir a) ser. Grita-me ao ouvido: faz eco, repetitivo, monótono, não inovador.
Entre os momentos de rebeldia, surdez psicológica, discurso verborreico e alucinoses pseudo-alucinatórias (porque todo Eu é pseudo) fica a ressaca da ausência dessas mãos doces de menino que me afagam os cabelos longos e não perguntam, nem respondem, beijam-me só a saudade do que nunca existiu. A trincheira alarga-se.
“Apenas adoro perceber-te, na medida em que eu não fui, ainda aquilo que tu já és.”, dizes-me ao ouvido em “dó menor” mas os acordes são dissonantes porque eu não nasci ainda.
Há pouco mais de poucos minutos fugi de casa para voltar depois. Levei os gritos que me puxavam os cabelos e corri, corri, corri até perceber que já não corro como antes. Que nem aí, nesses contornos fisicos que tanto investi consigo ser mais que um terço da metade de um.
Os ponteiros do meu relógio rodam no sentido inverso. Se calhar devia trocar as pilhas, reger-me por um relógio solar ou ignora-lo apenas, porque quem parou no tempo e na verdade nem sequer existe e não precisa de horas.

Respiro. Suspiro.
Quero adormecer. Quero acordar.
Comi muitos hidratos de carbono ao jantar.
Preciso de serotonina nas sinapses.
Abraça-me.
Pausa.

Choro.
Morro.
Parti.

E agora, no cantinho do meu quarto com a porta fechada volto ao útero da minha mãe, cruzo os braços nas minhas costas despidas. O despido da Mulher que desconheço esconde-se. Sinto falta dela (a Mulher), sabias. Ela escondeu-se e agora já estou cansada deste jogo. Quero deixar de ver Nada quando olho o espelho. Não quero brincar mais.
O ponto de ebulição tornou-se estacionário, os pensamentos borbulham na superficie tensional ar-água mas já não há palavras que façam o ar subir.

Nada.
Tudo.
Infinito....

1 comentário:

Enolough disse...

Fogo, assim fazes-me doer a uma peça qualquer que desconheço (sabes que eu nada sei de anatomia, pergunto-te sempre o que não sei).

Que é agora isso, Irmã?